Quando penso em Pernambuco, uma das primeiras imagens que vêm à minha mente é o frevo. Esse ritmo vibrante, cheio de energia e história, é muito mais do que música; é uma expressão cultural que pulsa nas ruas e no coração do povo pernambucano. Com suas origens ligadas ao carnaval e à mistura de influências musicais, o frevo se tornou um símbolo de resistência e alegria.
A história do frevo é fascinante porque reflete a riqueza cultural de Pernambuco. Desde suas raízes no século XIX até sua consagração como Patrimônio Imaterial da Humanidade pela UNESCO, o frevo mostra como a criatividade e a paixão podem transformar um ritmo em patrimônio. Cada passo, cada movimento das sombrinhas coloridas, carrega uma narrativa que conecta gerações e celebra a essência do Nordeste brasileiro.
Origem Do Frevo
O frevo surgiu em Pernambuco no final do século XIX, marcado por uma fusão de ritmos e danças que refletiam a diversidade cultural da região. Sua criação está profundamente ligada ao contexto urbano do Recife, envolvendo manifestações populares e as festividades carnavalescas.
As Raízes Afro-Brasileiras
A cultura afro-brasileira desempenhou um papel essencial na formação do frevo. Elementos rítmicos do candomblé e do maracatu influenciaram diretamente a cadência vibrante do gênero. O gingado característico das danças afrodescendentes, como o samba de roda, também se refletiu nos passos dinâmicos do frevo. Essa conexão evidencia como as tradições africanas moldaram manifestações culturais brasileiras.
Influências Da Música Europeia
Bandas militares europeias, comuns no Recife do século XIX, introduziram instrumentos de sopro e percussão que se tornaram características marcantes no frevo. A polca, o maxixe e outros gêneros musicais europeus influenciaram as melodias e harmonias do estilo. Essa mistura de referências deu ao frevo uma identidade única, ao mesmo tempo tradicional e inovadora, conectando diferentes culturas em uma expressão genuinamente pernambucana.
Ascensão Do Frevo Em Pernambuco
O frevo ganhou força no início do século XX, consolidando-se como a principal expressão do carnaval pernambucano. Sua popularidade cresceu rapidamente, atravessando classes sociais e transformando-se em sinônimo de identidade cultural.
O Papel Das Agremiações Carnavalescas
As agremiações carnavalescas desempenharam um papel essencial nesse processo. Clubes como o “Vassourinhas” e o “Pão Duro” foram pioneiros na difusão do frevo pelas ruas do Recife. Esses grupos organizavam desfiles e competições, levando coreografias marcantes e músicas vibrantes para o público. As agremiações também incentivaram a profissionalização de músicos e dançarinos, garantindo que o frevo fosse refinado e adaptado ao gosto popular. A rivalidade entre os clubes contribuiu para o surgimento de novos passos e transformou o frevo em um espetáculo dinâmico.
Os Blocos E Os Instrumentos Musicais
Os blocos carnavalescos trouxeram maior diversidade ao frevo, marcando sua presença tanto nos bairros mais populares quanto nas áreas centrais. Blocos como o “Madeira do Rosarinho” introduziram elementos criativos em suas apresentações, unindo vozes e instrumentos. A estrutura musical do frevo foi moldada pela combinação de sopros, percussão e ritmo. Trompetes, trombones e saxofones são usados nas melodias, enquanto surdos, caixas e taróis garantem a pulsação característica. Esses instrumentos criam uma fusão vigorosa, estabelecendo a base para a energia contagiante que define o frevo.
A Evolução Da Dança Do Frevo
A dança do frevo é marcada por sua energia vibrante e passos ágeis. Desde sua origem, evoluiu como uma forma de expressão cultural que une força, técnica e criatividade, refletindo a identidade pernambucana.
Os Passos Tradicionais
Os passos do frevo baseiam-se na agilidade e no equilíbrio. Existem mais de 120 movimentos catalogados, como o “dobrada”, onde o dançarino flexiona os joelhos enquanto mantém o equilíbrio, e o “parafuso”, que envolve giros rápidos no eixo do corpo. Frequentemente, as performances combinam passos com elementos de capoeira, como rasteiras e a ginga, criando coreografias dinâmicas e de alta complexidade. Os passos tradicionais são transmitidos por mestres e dançarinos em escolas e grupos culturais, preservando a essência do frevo enquanto estimulam variações modernas.
A Importância Do Guarda-Chuva
O guarda-chuva colorido é um símbolo icônico do frevo e integra a dança como um elemento coreográfico. Originalmente uma ferramenta de equilíbrio para os passos mais ousados, tornou-se uma extensão do corpo do bailarino. Cada movimento do pequeno guarda-chuva, conhecido localmente como sombrinha, complementa a narrativa visual da dança, criando um espetáculo de cor e movimento. Além de funcionalidade, a sombrinha carrega significados culturais e estéticos, reforçando a conexão entre a tradição e a inovação no frevo.
Frevo Como Patrimônio Cultural
Em 2007, o frevo foi oficialmente reconhecido como Patrimônio Imaterial da Cultura Brasileira, reforçando sua importância histórica e cultural. Esse título solidificou sua posição como símbolo identitário de Pernambuco.
Reconhecimento Pelo IPHAN
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) foi responsável por inscrever o frevo no Livro de Registro das Formas de Expressão. Essa conquista destacou o frevo como uma das manifestações mais ricas do Brasil, protegendo-o como patrimônio cultural. Foi necessário um extenso trabalho de pesquisa para documentar suas origens, características e a relação com a comunidade. Essa valorização atraiu novos olhares, assegurando a preservação do frevo para gerações futuras.
Impacto Na Cultura Pernambucana
O reconhecimento oficial ampliou o alcance cultural do frevo, fomentando sua difusão em escolas, projetos sociais e festivais. Isso impulsionou o turismo, principalmente em Recife e Olinda, cidades que abraçam o frevo durante o carnaval. Essas iniciativas também incentivaram artistas locais, permitindo que músicos e dançarinos profissionalizassem suas carreiras. Ao ser incorporado em diferentes espaços de ensino e apresentações, o frevo passou a simbolizar o vigor e a originalidade do povo pernambucano.
Frevo Na Atualidade
O frevo continua a ser uma peça central da cultura pernambucana, sobrevivendo ao tempo e se adaptando ao contexto moderno. Sua presença no cotidiano e em eventos culturais demonstra sua relevância contínua.
A Preservação Das Tradições
Diversas ações culturais mantêm as tradições do frevo vivas, conectando seu legado às novas gerações. Escolas de dança no Recife e em Olinda ensinam crianças e jovens os passos emblemáticos, como “tesoura” e “ferrolho”. Ainda, blocos carnavalescos tradicionais, como o “Galo da Madrugada”, realizam apresentações anuais, preservando o espírito original do frevo em suas performances. Feiras literárias e exposições, como no Paço do Frevo, registram a história e evolução do gênero, criando um diálogo cultural sobre sua importância.
Iniciativas Para Manter O Frevo Vivo
Instituições e movimentos populares têm papel essencial na valorização do frevo na atualidade. O Paço do Frevo, inaugurado em 2014 no Recife, promove oficinas, exibições e pesquisas relacionadas ao frevo, garantindo seu espaço nas artes pernambucanas. Festivais musicais, como o Festival de Frevo de Olinda, incentivam a criação de novas composições e trazem competitividade saudável entre músicos. Projetos sociais, como Aulas Gratuitas de Frevo promovidas por ONGs, alcançam comunidades carentes, tornando o frevo acessível e fortalecendo sua difusão.
Conclusão
O frevo é muito mais do que uma manifestação artística; é uma celebração viva da alma pernambucana. Cada nota musical, cada passo ágil e cada sombrinha colorida carrega séculos de história, resistência e criatividade.
Ver o frevo se reinventar e manter sua força cultural ao longo do tempo é inspirador. Ele conecta gerações, atravessa fronteiras e continua a ser um símbolo vibrante da identidade do Nordeste brasileiro.
Preservar e valorizar o frevo é essencial para garantir que essa riqueza cultural permaneça pulsando, enchendo de vida as ruas de Pernambuco e os corações de quem o vivencia.